Examinando a responsabilidade do financiador perante os movimentos e as comunidades
Responsabilidade na promoção da mudança social: Como os filantropos são responsabilizados e para quem?
O trabalho de mudança social é frequentemente marcado por questões de responsabilidade, e essas questões são refletidas em todos os setores por autores, comediantes, governos e ícones culturais em todo o mundo. Durante este webinar de 90 minutos, ouviremos líderes de comunidades e movimentos sociais sobre como é a responsabilidade e por que ela é fundamental para alcançar a mudança dos sistemas sociais. Também ouviremos os financiadores sobre o que eles estão fazendo para promover a responsabilidade em seu trabalho filantrópico, quais desafios estão enfrentando e como estão trabalhando para contorná-los. Também convidaremos e apoiaremos os participantes a explorar a responsabilidade em seu próprio trabalho.
Moderador
- Emily Reitman - Social Venture Partners International
Alto-falantes
- Katherine Zavala, Grassroots International
- Milvian Aspuac, AFEDES
- Sanjana Govindan, Social Venture Partners Índia
- Yolotzin Zamora, líder indígena da juventude
Edouard Morena, consultor do GEL e professor de política francesa e europeia no Instituto da Universidade de Londres em Paris, compartilha algumas reflexões sobre o webinar EDGE "Examining Funder Accountability to Movements and Communities". Durante esse primeiro webinar da série com curadoria dos participantes do GEL (Global Engagement Lab), investigamos como os financiadores podem ser mais responsáveis perante os movimentos e a sociedade civil.
Embora os efeitos dos esforços das fundações sejam públicos, a maior parte da tomada de decisões filantrópicas continua sendo um assunto amplamente privado e discricionário. Como explica Curtis White, "assim como o sistema de patrocínio que serviu às artes e à caridade desde a Renascença até o século XVIII, as fundações privadas têm o privilégio mais raro de todos: elas não precisam se explicar. Elas não precisam justificar as origens de sua riqueza, nem como usam essa riqueza, nem qual é o benefício real de sua generosidade". Para muitos, essa falta de prestação de contas é problemática, pois produz e sustenta desequilíbrios de poder entre financiadores e beneficiários: enquanto os beneficiários são regularmente responsabilizados por seus financiadores e seus públicos-alvo, o mesmo não pode ser dito dos financiadores. Eles não precisam justificar suas escolhas nem para seus beneficiários nem para a sociedade como um todo.
Algumas pessoas dentro da filantropia tentaram justificar esse fato argumentando, como fez James Joseph, que a relativa isenção das fundações do escrutínio público permite que elas "financiem programas inovadores e trabalhem na linha de frente dos problemas sociais sem se preocupar com a opinião popular ou com a construção de mandatos políticos". Elas podem assumir riscos e apoiar projetos que sejam politicamente controversos ou economicamente arriscados. Para Sonia Medina, da Children's Investment Fund Foundation (CIFF), as fundações estão em uma posição ideal para "testar abordagens inovadoras, assumir riscos, ser ágeis e reagir rapidamente a janelas de oportunidade", bem como agir "como corretores honestos que não são politicamente orientados".
O webinar "Examining Funder Accountability to Movements and Communities" (Examinando a responsabilidade do financiador perante os movimentos e as comunidades) proporcionou uma ocasião bem-vinda para abordar essas e outras questões relacionadas por meio das lentes dos financiadores da mudança sistêmica. Na verdade, e ao contrário de muitos no espaço filantrópico, a maioria dos financiadores de mudanças sistêmicas reconhece abertamente a falta de responsabilidade inerente à filantropia. Eles estão conscientes do fato de que seu próprio status como fundações produz um desequilíbrio de poder com seus beneficiários. A prioridade, então, passa a ser menos a tentativa de justificar o status único da filantropia do que a exploração de formas concretas de reequilibrar as relações entre beneficiários e financiadores, sem ter ilusões sobre a capacidade da filantropia de se tornar totalmente responsável. Ao combinar as perspectivas do financiador e do movimento, o webinar ofereceu insights valiosos sobre possíveis caminhos a seguir.
Em todas as diferentes intervenções, uma questão fundamental surgiu repetidamente: a necessidade de criar confiança e compreensão mútua entre os financiadores e os movimentos. A linguagem e a comunicação foram repetidamente mencionadas como meios essenciais para alcançar esse objetivo. Falar a mesma língua, tanto no sentido literal quanto no metafórico, parece ser a chave para alcançar um relacionamento mais equilibrado entre financiador e financiado. Com base em sua experiência no Laboratório de Inovação Humanitária do CICV, trabalhando com pessoas com deficiência auditiva, Sanjana explicou como o aprendizado de línguas de sinais foi um primeiro passo vital para a construção de relações de trabalho baseadas na confiança. Para Katherine Zavala (ThousandCurrents), aprender português foi uma parte importante do desenvolvimento de relações de trabalho estreitas com parceiros beneficiários no Brasil. Como Sanjana explicou, a construção de um "pensamento mútuo" às vezes exige um investimento significativo de tempo e esforço.
Com base em sua própria experiência como ativista comunitária, Yolotsin também insistiu na importância da comunicação. A forma como você se comunica é tão importante quanto o que você comunica. Além dos acordos e processos formais, a honestidade e a reciprocidade são fundamentais. Essa ideia foi ainda mais destacada por Katherine quando ela discutiu a importância da construção de relacionamentos em seu trabalho. A responsabilidade, explicou ela, não pode ser separada do "aprendizado mútuo e da confiança mútua". Isso, como ela destacou, muitas vezes exige aprender diretamente do campo, o que, por sua vez, implica ir fisicamente até lá.
O que também ficou implícito em toda a discussão foi o fato de que as discussões sobre responsabilidade não devem se limitar às relações entre fundação e beneficiário. A questão atravessa todos os níveis de organizações e atividades filantrópicas e de movimentos, desde o gerente de subsídios, que deve prestar contas ao seu conselho, até o responsável pelo programa, que deve prestar contas às comunidades da linha de frente que atende no campo. Portanto, é fundamental desenvolver e implantar mecanismos de responsabilidade baseados na confiança, tanto entre as organizações quanto dentro delas. Esse ponto foi destacado por Milvian Aspuac(AFEDES) quando ela explicou que, para ela, a responsabilidade não era apenas a elaboração de relatórios financeiros ou de impacto para os financiadores, mas também ser responsável perante outras pessoas dentro da organização, perante as mulheres e perante o planeta. Como ela explica, trata-se fundamentalmente de "praticar a prestação de contas uns com os outros".
Nosso incrível grupo de financiadores e representantes de movimentos que organizaram este webinar elaborou uma lista realmente útil de recursos.
A lista está disponível para todas as pessoas interessadas e pode ser acessada aqui.